12 de dez. de 2007

REFLEXÃO: “Qual PDA queremos em Sampa?”

“Qual PDA queremos em SAmpa”[1]

Confissões:

“Tenho a visão de que um dia, empresários e empregados, ricos e pobres, os mais e menos favorecidos, sentem ao redor de uma fogueira e conversem sobre a vida.”[2]

Desde épocas remotas a humanidade sempre teve o costume de sentar-se ao redor do fogo, à noite, para conversar e trocar impressões sobre o dia, sobre a vida, a morte e o universo. Aqui também temos algumas fogueiras, porém ainda somos poucos e com muitas inquietações acerca do tema que vamos refletir. Precisamos de mais gente ao redor da fogueira para imaginarmos possíveis pistas sobre uma possibilidade de caminho.

Ao refletir, desde este lugar de quem vê com olhos de campo, a nossa história de intervenção por meio da metodologia do Programa de Desenvolvimento de Área, aplicada a uma área rural como é o Vale do Ribeira, me pego pensando com isso se daria em São Paulo, a grande capital.

São Paulo, uma cidade com proporções continentais, por conceito, confusa e difusa, e um lugar onde cabem todos e tudo, os que usam e os que não usam Rexona[3]. A impressão inicial que tenho é que todas as metodologias de intervenção já foram ou vem sendo testadas aqui em nossas favelas e periferias. Cada organização de Terceiro Setor aqui na “cidade grande” vem testando ou já testou uma proposta de romper com o ciclo de pobreza, algumas já tiveram certo êxito e temos que aprender com elas e outras estão no caminho e nós querendo entrar nesse caminho, por onde já caminhamos, porém com uma nova qualidade de caminhar.

Ao pensar na aplicação da metodologia PDA em um contexto urbano somos confrontados com as diferentes temáticas e pluralidade desse espaço desafiador e que ainda é um mito para muito de nós.

Nesse sentido quais são as extensões e limites de nossa intervenção? Cabem todos? Mesmo? Ou só quem usa Rexona?

1ª Parte: Inquietações Invisíveis

Pode uma metodologia que determina um “locus” ser suficientemente capaz de atender as diferentes necessidades de uma cidade com dimensões e problemáticas continentais?

O programa de desenvolvimento de área é adaptável até que ponto para atender nossa demanda urbana?

Quais são os limites da nossa metodologia de intervenção?

Até que ponto, podemos adaptá-la?

Quais são as adaptações passíveis de se acontecer em um meio urbano?

A comunidade tem que ser o ator protagonista do seu desenvolvimento local. Para tal é necessário um olhar para as riquezas locais.

Ö Quais são as potencialidades desses atores locais?

Ö O que existe de novo na intervenção proposta?

O projeto deve forte o capaz de ver as diversas dimensões nessa comunidade maior e multifacetada que integra as diferentes comunidades “in loco”. Ou seja, como congregar os diferentes grupos locais (guetos) de uma mesma comunidade ao em torno de uma proposta de desenvolvimento. Como pensar em uma Comunidade (ÁREA/TERRITÓRIO) composta de diferentes comunidades (PÚBLICOS)?

No tema de inclusão. Como incluir na mesma ciranda:

ü Parceiros Pobres – Internos a Comunidade

ü Parceiros Não Pobres – Externos a Comunidade

Quais são as dimensões não-visíveis de um PDA?

Ö Dimensão Político Educadora, baseada no princípio do exercício local da política e poder?

Ö Dimensão Emancipadora, baseado na autonomia como fator principal do protagonismo local?

Ö Dimensão Histórica Social, baseada na valoração da história que a comunidade já possui, na identificação das fortalezas comunitárias e debilidades a serem superadas e com isso a reafirmação da identidade local?

Ö Dimensão Desenvolvimento Transformador, que perpassa e norteia as demais dimensões.

2ª Parte: Somos seres multicomunitários.

As comunidades possuem grupos locais que mantêm uma rede de relações de “troca” entre si e com vários grupos vizinhos, considerados aliados frente ao enfrentamento das micro dificuldades e das questões mais estruturais.

Esses grupos unidos são unidos parcialmente, para formar uma rede sócio-economica e política complexa, que liga a totalidade dos grupos locais (seus diferentes guetos) de um lado ao outro do território, com limites geográficos difusos e transito livre entre eles.

A delimitação territorial é a comumente usado para identificar um grupo, porém ele o limita a um espaço geográfico, muito das vezes não determinado por eles. Outros aspectos também podem identificar os diferentes grupos urbanos e como eles se relacionam entre si. Alguns desses aspectos podem ser relacionados, numa tentativa de elucidar a diversidade urbana.

Ö Grupo de Crianças: em situação de rua[4];

Ö Grupos de Adolescentes: punks, grunjes, mongos, caras pintadas, pichadores, etc

Ö Grupos de Homens: catadores de materiais recicláveis (cooperados e não cooperados); moradores de rua; sem teto; idosos; etc...

Ö Grupo de Mulheres: Negras; mães de crianças desaparecidas; artesãs; costureiras; etc...

Ö ...

Desse universo, a princípio penso em alguns pequenos grupos vulneráveis que tem ser atendidos por um PDA Urbano:

- Crianças em situação de Rua?

- Moradores de Rua?

- Adolescentes em conflito com a lei?

- Dependentes químicos?

- Deficientes físico-motores e mentais (portadores de necessidades especiais)?

- Negros?

- Mulheres?

- Idosos?

- Afastados momentaneamente do mercado (doentes, acidentados, etc)?

- Os excluídos do modelo transformador alvo dos modelos de caridade?

Como atender as diferentes demandas e possibilidades existentes dentro de uma perspectiva de um PPP[5]?

- igreja

- voluntariado empresarial.

- voluntariado por projeto.

- responsabilidade social empresarial

- universidades

Como trabalhar o conceito de emancipação com toda a comunidade e ao em torno dela, mas que mantém o pobre como protagonista.

Como trabalhar o conceito de desenvolvimento transformador de forma harmônica com a necessidade de um atendimento assistencial.

Desafio de uma gestão que mantenha o pobre como protagonista a todo tempo[6].

Como integrar isso com o mesmo programa que se propõe a trabalhar o desenvolvimento em logo prazo?

Como criar “pontes” – força favoráveis para implantar uma proposta de intervenção social que leve em consideração a conciliação urbana em contra-ponto a tirania fragmentadora urbana.

Como desenvolver e pensar isso na perspectiva emancipadora e não de transferência de serviços.

Reinvenção da comunidade pela proposta de intervenção apropriada e executada pela própria comunidade.

Imagem: a Integração tem que acontecer antes do Prédio. Esse aparelho não é para atender a mudança, ele viria depois que a mudança acontece-se.

IMAGEM: que ilustra o sistema de Rede de Alianças e Parcerias Estratégicas: uma pedra jogada na água que faz círculos dentro de círculos de ondas.

IMAGEM: um tantão de gente com linhas e agulhas na mão, tecendo....

3ª Parte: O que queremos testificar:

Sampa Sul, será uma unidade que reunirá diferentes projetos em torno de um programa. Não será uma alocação de projetos/programas individuais, mas a coordenação de um programa maior, integrado dentro do território especifico, delimitado pela UOPe.

Os diferentes projetos e programas deverão estar integrados dentro do programa maior da UOPE São Paulo. A diversidade deverá primariamente ser revista e incluída em sua possibilidade num plano maior. Não trabalhamos pelas ofertas de recursos, mas pela oportunidade de diferentes recursos e por decisão programática[7].

Por escolha escolheremos:

- em relação ao financiamento não seremos reativos/responsivos mais propositivos;

- onde atuar e onde não atuar;

- onde trabalhar e onde não trabalhar;

- com quem trabalhar e com quem não trabalhar.

A tentativa de fazer esses apontamentos reflete a necessidade de afirmar nosso posicionamento estratégico em São Paulo. Não teremos projetos para termos números. Teremos programas para executarem os projetos que cabem dentro da nossa escolha estratégica de atuação.


São Paulo/SP, 14 de Fevereiro de 2007


[1] Esse texto representa reflexões feitas por mim ao longo de minha atuação na organização e é estrutura face ao eco nas discussões com vários companheiros dentre os quais muitos compartilham o mesmo olhar e as mesmas questões.

[2] Eduardo Nunes, parafraseando o profeta Isaías.

[3] Referência ao Texto de Eduardo Albuquerque Nunes: "Sempre Cabe Mais um Quando se Usa DTS" - Multi-Setorialidade e a Construção de Projetos Orientadores em Programas de Desenvolvimento Local na VM - 26/02/2003.

[4] Pais trabalham e crianças não tem onde ficar e freqüentam a rua.

[5] Projeto Político Pedagógico

[6] Referência ao Documento de Definições Operações – Fev 2002.

[7] Esse posicionamento está alinhado com as novas diretrizes organizacionais PLC – Programa Line Choices.

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